Energia Termodinámica no Carmelo em Fátima
Por incrível que pareça a casa nova ficava mais barata do que restaurar a antiga", revela a madre prioresa do Carmelo de S. José, em Fátima (Ourém), Cristina Maria, de 43 anos, ao mesmo tempo que mostra grande satisfação com a dinâmica do processo e os resultados alcançados. A própria, acompanhada das outras 19 irmãs carmelitas descalças, vai passar, a partir do próximo mês, a residir numa casa aquecida com energia gerada por fenómenos naturais. Energia produzida através de painéis termodinâmicos que aproveitam todos os estados do tempo para aquecer o espaço. A casa já tem os 70 painéis colocados e, ainda em obra e com as portas abertas, sente-se o pavimento aquecido. É um tipo de chão, "radiante", que absorve e mantém o calor. As paredes (por fora) são forradas de esferovite pintada com uma tinta especial. Só os painéis custam cerca de 70 mil euros, mas fornecem "energia limpa, segura e gratuita". O edifício têm ainda a particularidade de ser coberto com uma telha que deixa escorrer as águas da chuva, as quais são depois encaminhadas por caleiras até chegarem às cisternas que abastecem os autoclismos e os sistemas de rega, de modo a poupar água potável. Começaram por um projecto tradicional, "virado a sul para aproveitar ao máximo os raios solares", explica a madre, "apanhada" pelo DN a resolver problemas da obra com o encarregado. Tanto conforto numa Ordem religiosa com regras tão severas não poderá ser mal entendido? "Tanto frio como temos na outra casa era um problema para as mais velhinhas", responde Cristina Maria. E avança que têm "direito a um mínimo de conforto". Tudo custa 2,5 milhões de euros. A prioresa tem dúvidas em divulgar o número, mas aproveita para pedir "ajuda porque tudo custa sempre muito mais do que se esperava". "Vendemos o terreno que ainda nos restava aos irmãos [o ramo masculino],que fica aqui ao lado, para pagar". Mas as verbas não chegaram. Exorta, por isso, "os benfeitores" a consultarem a página que têm na Internet: www.carmelofatima.carmelitas.pt. Um sítio que ilustra a vida simples que querem seguir. Têm uma casa com 22 celas. "Só ficamos com lugar para mais uma irmã", sublinha a carmelita, satisfeita com o facto de não sentirem a falta de vocações que é apontada ao sacerdócio. São 20 mulheres com idades entre os 23 e os 82 anos. A maior parte está entre os 23 e os 43, com as mais diversas formações seculares. A surpresa é perceber que grande parte delas seguiu, antes de entrar para a clausura, formação académica das mais variadas áreas técnico-científicas. A última a entrar, no passado Verão, é arquitecta. Mas há licenciadas em engenharias, Química e Paisagista, uma médica, uma psicóloga e uma licenciada em Relações Internacionais. "Estão muito satisfeitas", diz a prioresa, garantindo que elas"seguem à risca" a regra da clausura. "Nunca pensámos ter possibilidade de pôr aquecimento", afirma a prioresa, retomando a conversa sobre a casa enquanto mostra o edifício e os painéis. E explica, revelando um interesse profundo pela obra: "São uma espécie de frigorífico ao contrário".
Jacinta Romão
in: Diário de Notícias
Jacinta Romão
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